O relato abaixo, de autoria do psicólogo americano Daniel Goleman, é um bom exemplo do que é compaixão:
“Era uma sexta-feira, fim de tarde. Na época, eu trabalhava no jornal The New York Times. Estava descendo as escadas do metrô, assim como centenas de cidadãos que iam para casa, quando notei um homem caído, imóvel. As pessoas, de tão apressadas, apenas pulavam por cima dele. Quando me aproximei, parei para ver o que tinha acontecido. No mesmo instante, meia dúzia de outras pessoas também parou em torno dele. Descobrimos que era um hispânico, não falava inglês, não tinha dinheiro, estava faminto e desmaiou de fome. Imediatamente, alguém trouxe um copo de suco de laranja, um outro lhe deu um cachorro-quente e ele se levantou. Tudo o que precisava era de um simples ato: o de ser percebido.”
A palavra compaixão vem do latim compassio, que significa o ato de partilhar o sofrimento de outra pessoa; entender a dor de outra pessoa e sentir dó de seu sofrimento. A pessoa que sente compassio, ou compaixão, consegue se pôr nos sapatos de outra pessoa que está sofrendo, entendendo aquilo que está passando. Essa compreensão leva ao desejo de ajudar, partilhando o peso da dor. A palavra compassio vem da raiz compatior, um verbo que significa ter compaixão ou se compadecer de alguém. Por sua vez, compatior foi formado pela junção de duas palavras: cum e patior. A palavra cum é uma preposição que indica companhia, podendo significar “junto com” ou “ao mesmo tempo que”. O verbo patior significa sofrer ou aguentar alguma situação difícil que causa sofrimento. Patior também pode ser usado no sentido de tolerar ou permitir alguma coisa, apesar de causar dor ou sofrimento pessoal. Um exemplo disso seria quando um pai permite que os filhos pulem em cima dele, apesar de estar cansado e querer um pouco de paz. Assim, compatior significa literalmente “sofrer junto com” alguém. Como bem coloca o Dicionário Houaiss, compaixão é um sentimento compartilhado que se origina de uma tomada de consciência mais clara sobre o outro. Compaixão é uma emoção e, de fato, uma “emoção profundamente sentida”. A escritora inglesa Karen Armstrong, autora do livro 12 Passos para Uma Vida de Compaixão (ed. P), diz que somos biologicamente programados para a compaixão, bem como para a violência e o medo. “Temos regiões em nosso cérebro e hormônios que nos inclinam ao altruísmo, o que permitiu a sobrevivência da nossa espécie. Isso nos ajudou a viver juntos, em grupos, de maneira que os seres humanos, frágeis em tamanho, pudessem ser mais fortes do que se tentassem existir sozinhos”, explica.
A compaixão é a consciência permanente de que existe o outro. E solidariedade é o efeito natural de identificar o outro por essa consciência e dar vida a essa relação. Sendo assim, uma não existe sem a outra. Quando adotamos a compaixão como exercício cotidiano, estamos na verdade dizendo aos outros: “Eu vejo vocês”. A compaixão “coloca o coração na miséria alheia”, nas palavras de Guimarães Rosa. João Calvino afirmou: “A compaixão é uma cura mais eficiente para o pecado do que a condenação”.
(Luiz Corrêa – Filósofo, Logerapeuta e Humanitarista)