No dia 22 de setembro aconteceu a Audiência Pública para fazer a discussão sobre o Hospital Colônia de Itapuã. O evento foi presidido pelo vereador Fabrício Ollermann, proponente da audiência.
O ex-diretor do Hospital Colônia de Itapuã, Alexandre Godoy, o ex-subprefeito de Itapuã, Márcio Lemos, e a coordenadora do Movimento de Reintegração de Pessoas Afligidas pela Hanseníase (MORHAN), Magda Chagas, fizeram parte da mesa de trabalhos. O evento recebeu moradores, entidades e representantes do Morhan, e demais pessoas ligadas ao Hospital Colônia de Itapuã.
A pauta central da Audiência foi discutir o futuro do Hospital e dos moradores. O Morhan é uma entidade sem fins lucrativos fundado em 6 de Junho de 1981. Suas atividades são voltadas para a eliminação da Hanseníase, através de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população. “Precisamos e queremos visibilidade, a Hanseníase precisa ser tratada de forma holística, que abrace o todo, ou seja, de maneira transversal. O Brasil é o segundo país com mais casos da doença.
O Hospital Colônia de Itapuã tem capacidade, não somente em nível de saúde, precisamos levar esses assuntos para as áreas da educação, da assistência social, temos um enorme potencial para o desenvolvimento de pesquisas.
Quero frisar que essa causa não é partidária, é preciso ter ética e respeito para tratar de um assunto tão importante”, relatou Magda. Alice Cruz, que é a relatora Especial da Organização das Nações Unidas – ONU sobre eliminação da discriminação contra pessoas afetadas pela Hanseníase e seus familiares, participou da Audiência Pública por meio do aplicativo Zoom.
“Precisamos entender e compreender que as pessoas acometidas pela Hanseníase carregaram um grande estigma, então esses espaços que antes eram usados para o tratamento, tornaram-se moradias para aquelas pessoas. Resumindo, nós precisamos pensar esses processos de formas menos institucionais, e sim mais humanos, pois esses locais viram moradias”, enfatizou Alice Cruz. Eva Pereira Nunes, que é moradora da colônia até hoje, falou sobre o dia em que foi levada ao Hospital Colônia, quando tinha 12 anos de idade.
“Eu estava na escola e lembro que a professora me arrancou da sala porque eu estava com uma bolha no braço. Afastou-me das outras crianças, me deixou isolada. Falaram com a minha família e a gente criança não entendia nada. Foi aí que apareceu uma camionete que me levou para o internato.
Antes, me levaram ao posto de saúde e o médico disse: “vão ter que isolar ela”. Então me prendeu num quartinho, por onde me davam comida através de um buraco. Se passou uma semana e não disseram para onde eu ia, disseram que eu duraria três meses. A camionete rodada, rodava, passava por mato e poeira, era um desespero. Vim saber só depois de muitos anos. As irmãs franciscanas foram as únicas que nos abraçaram, porque ninguém queria chegar perto da gente.
A maior dor que eu carrego é que ninguém falava com a gente, no ônibus da escola, não sentavam do nosso lado, apontavam para nós”, desabafou Dona Eva.
“Não existe lei de desinstitucionalização de Hanseníase. Fechar uma unidade de saúde ainda em atividade e com pacientes, é ilegal perante os direitos humanos. Unidade de saúde não se fecha, mas se investe em melhorias. Se revitaliza”, argumentou o vereador Fabrício Ollermann. Representando a Câmara de Vereadores estiveram presentes os vereadores Rodrigo Pox, Alex Boscaini, Dédo Machado, Fátima Maria, Markinhos da Estalagem e Eda Regina.