Na casa da Dona Iris, esposa do saudoso Vereador Bebeto, em frente ao Lago Tarumã, alguns familiares se reuniram para fazer sanduíches aos desabrigados da maior tragédia climática da história do país. Era dia 04 de maio, sábado, e aquele grupo de poucas pessoas rapidamente se multiplicou, chegando a mais de trinta ainda naquele fim de semana.
“Não foi preciso chamar ninguém. As pessoas ficaram sabendo e foram chegando”, disse Dona Iris, se referindo aos familiares e amigos que se somaram ao grupo inicial. Além dos mais de dois mil sanduíches, ainda no fim de semana, o grupo de amigos também fez sopa e organizou as roupas que recebeu em doação, por tipo, gênero e tamanho, para facilitar a triagem nos abrigos.
O desafio, então, seria fazer com que as roupas e os alimentos chegassem aos destinos: Alvorada, Cachoeirinha e, principalmente, Canoas e Zona Norte de Porto Alegre. Bruno, neto da Dona Iris, contou, ao Jornal Opinião, que “A gente teve o apoio das caminhonetes de alguns amigos que se uniram ao nosso grupo.
Passamos por dentro d’água para chegar a alguns locais e tivemos até escolta da polícia na ERS 118 para levar água na Mathias (bairro de Canoas que foi mais atingido pela água)”. “A gente não tem mais ideia de quantos quilos de alimentos, litros de água e roupas já recebemos de pessoas próximas e de outras que não conhecemos, mas que ficaram sabendo do nosso trabalho”, comentou Vanessa, também neta da Dona Iris, que complementou dizendo “recebemos doações em dinheiro vindas de outros estados e outros países, de amigos, de parceiros das nossas empresas e amigos dessas pessoas, que nem nos conhecem, mas se comoveram com a situação do nosso estado”.
A conta para doações em dinheiro é da Vanessa, no Banco Inter, e a chave do PIX é o CPF 032.836.620-02. O grupo se comprometeu com as pessoas que estão realizando as doações em fazer uma prestação de contas semanal. “Nossa primeira prestação de contas foi neste fim de semana e enviamos para todos os doadores”, salienta Dona Iris, que é auditora fiscal aposentada da Receita do Estado. “Temos muitos amigos de muitos lugares do Brasil ajudando o nosso Rio Grande da forma que podem.
Pedimos a muita gente de fora do estado que nos enviassem recursos e é emocionante quando ficamos sabendo que, muitos, já estão participando de grupos nas empresas, nos condomínios e em seus bairros, e o resultado são carretas e mais carretas de água, roupas, alimentos e produtos de limpeza e higiene sendo enviados”, destacou André, filho da Dona Iris.
Em Viamão, diversos grupos de comunidades, CTGs, igrejas, associações, entre outros, se organizaram e montaram abrigos onde as pessoas resgatadas estão sendo acolhidas. Além disso, centenas de grupos na cidade e pelo estado foram formados para receber, organizar e direcionar as doações. Outros estão fazendo marmitas e levando prontas para os abrigos e casas de pessoas que receberam seus familiares vindos das áreas alagadas.
É o povo ajudando o povo. Em meio a tanta solidariedade uma história de superação: Eliza, namorada do Bruno, mora em Canoas, no Bairro Mathias Velho, e teve a casa completamente alagada. Apesar da perda, manteve o otimismo e falou ao Jornal Opinião:
“’Levem o que é mais importante’, foi o que ouvimos. Infelizmente, não tínhamos como colocar toda a história que vivemos em trinta anos naquela casa dentro de uma mochila. Saímos com nossos cachorros, algumas roupas e documentos e, ainda que tenhamos perdido muito, temos saúde, família e, principalmente, vontade de ajudar o próximo, então, temos tudo! Somos todos iguais, o povo pelo povo…”.